16/04/2016

Walter Villa - o Reverendo

Boas Galera!

Dando uma lida em algumas coisas sobre corridas de motos, conheci alguns grandes nomes e histórias fantásticas. Walter Villa foi um deles e trouxe um pouco de sua história ao conhecimento de vocês... Boa viagem!

Hoje é inevitável se lembrar o quanto a sua carreira foi atada (ao menos no princípio) como um "cordão umbilical" à experiência, à competência, à astúcia de seu irmão mais velho, Francesco Villa, famoso e estimado como preparador e corredor. Seu irmão mais novo, Romano, também iniciava uma promissora carreira, quando subitamente foi interrompida por um acidente de automóvel na estrada.


Walter, o quarto irmão de seis da família Villa, foi o mais talentoso e aquele que mais alto elevou o nome da família, conquistando 4 títulos mundiais e 9 títulos italianos de moto velocidade.

Walter era uma cópia mais "carregada" de Francesco. Se Francesco sabia conter a raiva em certos momentos, Walter não se saía tão bem. Se Francesco aceitava o sucesso com modéstia e não ligava para dinheiro, Walter já era mais um "showman", atraindo a atenção com seu jeito extrovertido, e sabendo se valorizar. Muitas outras comparações poderiam ser feitas, sempre com Walter sendo mais rígido e profissional.

Villa em ação com a Mondial 125 - 1965
Villa com a Becaccino 125 - 1965
Walter, de estatura média, meio "gorducho", amigável, mas astuto, foi apelidado de "o Reverendo", por seu modo de ser, amável com todos, amante da boa cozinha, tranquilo em tudo o que faz. Apesar dessa aparência tranquila, Walter Villa se mostrou aos colegas pilotos um osso duro de roer. O seu modo de pilotar, completo e limpo, a sua grande capacidade de utilizar cada migalha de potência do motor, sua fúria irreduzível de pilotar, da primeira à última volta sem se abater por cansaço ou desânimo, o fez um antagonista que sempre tinha que ser vigiado com olhos bem abertos, por que no menor descuido ele poderia ultrapassar. E se a "brecha" fosse muito pequena, não hesitava em abrir espaço até com um... "pontapé não intencional" (o Cecotto que o diga)! Mas vamos fazer "vista grossa".

Walter Villa nasceu em Castelnuovo Rangone (região da Emília-Romanha, província de Modena - Itália) em 13 de agosto de 1943 e com um irmão corredor em casa, não demorou muito a estar envolvido nas competições. Estreou de fato em Modena, em 1962, com uma Morini Settebello 175 emprestada, chegando em terceiro, e continua a temporada com motos arrumadas aqui e ali (Ducati e Motobi), característica dessa fase, e consegue bons resultados na categoria Novatos.

Os três irmãos Villa, com a Mondial. 
À esquerda Francesco, e a direita Walter.
Em 1963, já é Junior, e concluiu o ano em terceiro lugar no campeonato, depois de haver vencido em Riccione e em Ímola, esta uma prova embaixo de chuva com uma Ducati 125. Fez também um bom campeonato italiano na 175 cc, com uma Morini e uma Ducati, ficando em segundo lugar, atrás de Giacomo Agostini.

Em 1964, na categoria Sênior, disputa com uma Mondial 125 dois tempos, como a de seu irmão, e fica em quarto no campeonato. No GP das Nações, sofreu um espetacular e inócuo escorregão na curva parabólica.

Villa na Triumph da equipe 
Bepi Koelliker - 1972
Em 1965, uma grande notícia: A MV Agusta está também desenvolvendo uma 125 dois tempos experimental, e chama o jovem Walter para piloto de teste. Mas se tratava de uma "bolha de sabão". Logo depois o projeto é abandonado, deixando Walter livre, livre para vencer a última prova do campeonato em Vallelunga, com uma "Becaccino" dois tempos, preparada pelo seu irmão Francesco.

Em 1966, volta a pilotar uma Mondial e iguala o feito de Francesco, no Álbum de Ouro do campeonato italiano, vencendo pela primeira vez o título tricolor. E venceria também nos dois anos sucessivos: Em 1967, também de Mondial, e em 1968 com uma Malanca 50. Em 1969 e 1970, disputou com uma moto Villa, construída por Francesco.

Entre as experiências novas nesse período, Walter correu (infelizmente) brevemente com uma Morini 250 de honrado passado, e fez um teste com uma belíssima Montesa 250 bicilíndrica, 2 tempos, (aqui também uma mãozinha do onipresente Francesco), com a qual incomoda seriamente Mike Hailwood com sua Honda 250 de seis cilindros em Riccione.

Villa de Kawasaki 500 - 1972
Daquele momento então, era considerado unanimamente um dos melhores e mais seguros pilotos, é muito solicitado e peregrinará de uma marca para outra, mas com desempenhos irregulares, sem nunca chegar a uma empresa definitiva como em 1974 com a Harley Davidson.

Assim, Walter corre, e quase sempre obtendo resultados excelentes, porém isolados, com Benelli, Kawasaki, MV Agusta, uma Yamaha privada, que comprou (para não correr o risco de ficar a pé), e a Triumph-Koellikers 750, com a qual vence os 500 Quilômetros de Monza, em dupla com Zubani. Mas essa sua atividade toda o levou a poucos resultados globais e nem sempre uma temporada tranquila.

Villa de Benelli 500 - 1972
Em 1973, é envolvido no acidente de Monza que custou a vida de Pasolini e de Saarinen. Ele também sai machucado e ainda tem que sofrer algumas fofocas desagradáveis (depois verificadas e infundadas), de que o acidente teria sido provocado pelo vazamento de óleo de sua Benelli, na prova anterior, das 350 cc. 

1973 não foi um bom ano para Villa
e sua Benelli 350
Outras polêmicas seguirão Walter, não muito tempo depois do acidente de Monza, que insiste em correr no GP da Iugoslávia, mesmo contra a opinião de muitos. Como consequência, Walter cai, e logo se fala que não era prudente retornar a pilotar depois de um choque que também havia lhe causado um trauma craniano. Como compensação, dessa terrível temporada, Walter consegue, entretanto, o título italiano da categoria 250, com sua Yamaha privada.

Em 1974, a sensação é de que o destino mudará para ele. Chega a ele da Harley-Davidson (construída na Itália pela Aermacchi), uma oferta que de certa forma não era muito atraente (nenhum salário, mas só os prêmios oferecidos pelos organizadores), mas era a única forma de disputar de igual para igual com outras máquinas dessa grandeza: aquelas bicilíndricas 2 tempos de 250 e 350cc eram finalmente, depois de um longo e cansativo aprendizado, competitivas, e um prazer de se ver.

Walter na Harley-Davidson 250 
a caminho do título 1974

O resultado é clamoroso, Walter faz uma excelente temporada e leva para casa o título mundial das 250, vencendo em Ímola, Assen, Imatra e Berno. Não se tratava de um golpe de sorte, porque em 1975 vem a confirmação. Mesmo com a Yamaha tendo um time forte, com Cecotto, o Bi-campeonato das 250 vem, com as vitórias em Jarama, Hockenhein, Ímola, Assen e Anderstorp. Além disso também conquista o título italiano das 250.

Walter, Bi-Campeão nas 250 em 1975
A façanha maior se realiza em 1976, quando Walter, agora que a Harley-Davidson 350 também é competitiva, obtém resultados para ser o centro do mundial em ambas as categorias que disputa, levando os títulos das 250 e das 350, elevando para quarto o número de títulos mundiais conquistados. 

Para valorizar esses resultados, vale lembrar que o vice das 250 ficou com Katayama e o das 350 com Cecotto. O estado de graça se confirma também em terras italianas, com os títulos nacionais das 250 e 350, elevando para 7 a sua cota do "carnê", como se fala na Itália.

Na 350, a Harley-Davison começou a andar!
Campeão - 1976
Em 1977, o vento da boa sorte sopra, mas novamente em outra direção. Seu colega de equipe, Bonera, é substituído pelo fantástico Franco Uncini, e o departamento de competições, constituído por homens de indiscutível valor, parecem ser enfraquecidos pelo golpe. Walter é sempre o piloto de antes, mas as motos sempre tem alguma coisa, parece até uma conspiração, o que leva até Walter a acreditar. Era certo que para Walter Villa seria uma temporada negra, no mundial e no campeonato italiano. Mesmo assim, ainda fica em terceiro no mundial das 250, com 3 vitórias, e em décimo sétimo nas 350.

Pódio em Brno das 250cc - 1977
1º Franco Uncini, em 2º Walter Villa e 
3º (seria o campeão) Mário Lega.
Para dizer o quanto foi tudo absurdo naquele ano, basta recordar o episódio das 100 Milhas de Ímola, nas 250, na qual Villa se toca na última volta no então desconhecido Ballington, acreditando poder passar num vão entre os "zig-zag's" que o novato fazia à sua frente.

Em 1978 as coisas vão ainda piores, porque Walter não pode mais contar nem mesmo com o apoio direto da Harley-Davidson, que fechava as portas. Administra ele próprio o material ex-oficial da Harley, graças à ajuda obtida do Team Nolan, mas os resultados não aparecem nem no Mundial, e nem no campeonato italiano. Ao terminar a temporada, participa do Bol d´Or, em dupla com Marc Fontan, pela Japauto, demonstrando a classe de sempre, de campeão, chegando em sétimo lugar, mesmo com algumas paradas por problemas na motocicleta.

Uma das últimas provas de Vila
no Mundial de 350 - GP França 1980
Em 1979, uma nova esperança de retornar ao cume: o patrão da venezuelana Venemotos, Andréa Ippolito, lhe oferece uma moto e hospedagem, para que corra com raça, defendendo as cores da Yamaha-Venezuela. Walter aceita e começa vencendo a primeira prova do mundial de 250 na Venezuela (seria sua vigésima e última vitória em mundiais), e chegando em segundo na 350. Depois vence nas 350 em Misano, onde é segundo nas 250, atrás de Graziano Rossi (pai do Valentino). Em Hockenhein enquanto duela com Ballington, fica sem combustível na última volta das 250, enquanto nas 350, quebra o pedal de câmbio na volta de apresentação e não consegue largar. Pouca sorte também em Ímola, e assim com um alternar de resultados, faz perder a esperança de reconquistar o título, que, no início da temporada, parecia tão possível de conseguir.

Walter - Bol D´Or - 1984
Em 1980, Villa iria correr por uma equipe e moto novas, a Adriática 250 que preparava um novo motor com o famoso engenheiro holandês Jan Vieteveen. Na verdade a moto não andava tão bem assim, mas venceu uma prova do campeonato italiano em Misano. Mas no mundial, só conseguiu marcar dois pontos, graças a um nono lugar em Rjeka. Ao final da temporada, Walter se retira das pistas e vai dedicar sua atividade aos jovens pilotos, como um, digamos, "caça talentos". E foi assim que descobriu pessoalmente o grande talento de Luca Cadalora.

Continuou sempre ligado ao motociclismo, sendo um grande mecânico, (muito técnico assim como lhe ensinou o irmão Francesco) e formador de novos talentos. Em 1984 e 1985 disputou ainda a prova de 24 Horas de Bol D´Or , a convite da Ducati. Walter veio algumas vezes ao Brasil, e disputou, com algumas vitórias, provas do Latino Americano, Copa Brasil, e da Taça Centauro, em Interlagos. 

Largada da Copa Brasil de 1979 (Interlagos) Walter Villa (nº 1)

Por sua calma e a capacidade de propor soluções de compromisso para várias disputas que surgiram sob o circo ou os organizadores, ganhou o apelidado dos pelos colegas, o "Reverendo". Em sua longa carreira, ele correu com vários fabricantes de motocicletas: Mondial, Moto Vila, Snipe, Montesa, Ducati, Morini, MV Agusta, Benelli, Yamaha, Aermacchi Harley-Davidson, Honda, Kawasaki e triunfo, lutando com os mais famosos campeões da época como Giacomo Agostini, Jarno Saarinen e Renzo Pasolini. Walter Villa faleceu na noite de uma quinta feira, 20 de junho de 2002, aos 58 anos, em sua casa, em Modena, vítima de um ataque cardíaco fulminante.

Interlagos 1979 - O tetra campeão Walter Villa
Essa é apenas uma pequena homenagem à memória deste grande campeão italiano. 



Walter Villa, o Reverendo.



Texto - Goran Slavic - Sérvia goran.slavic@ri.htnet.hr
Tradução, adaptação e Lay out - Ricardo Pupo
Fonte: Revista Motociclismo d´Epoca, ano 8 nº 9
Novembro / 2003




Espero ter ajudado...



Boas Estradas!


Giacomo Agostini e Walter Villa
campeões mundiais em 1975, respectivamente,
da Classe 500 e Classe 250.

Fontes:
https://it.wikipedia.org/wiki/Walter_Villa



http://www.motosclassicas70.com.br/walter_villa.htm


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