10/07/2015

Comprar chão, um negócio doloroso

Boas! Andei lendo alguns blogs por ai e encontrei este artigo e achei muito bacana e de extrema importância para que nós todos tomemos ciência deste assunto. Não é recente, mas mesmo assim, não deixa de ser muito atual.

Espero que goste e boa leitura!



Agradeço ao Amigo José Ricardo Zani pelo artigo!


Se cair, do chão não passa. Algum dia você acreditou nisso? Tudo bem, não precisa se justificar. Melhor mesmo é cair na real. Veja por que as consequências de um acidente nem sempre vão até ali onde está o chão.




Comprar chão, um negócio doloroso


Antes de mais nada, sei que muita gente não gosta de falar sobre acidentes. Para alguns, esse papo pode soar como desmancha-prazer. Para outros, é como falar de corda em casa de enforcado. Mas, vamos e venhamos: o que é pior? Aceitar uma conversa nua e crua ou tornar-se uma vítima da desinformação?


Então, comecemos por colocar os pés no chão -- apenas os pés. Muita gente se torna vítima de acidentes porque, antes, caiu numa cilada. Sem perceber, algumas pessoas passam a confiar naquele sofisma segundo o qual "se até ontem não me aconteceu nada, não será hoje que vai acontecer..."

Mais curioso é o caso dos que unem a inexperiência àquelas fantasias inspiradas em filmes de super-heróis. Acham que os acidentes mais sérios ou resultam em morte instantânea ou em algum tipo de lesão que logo se resolve, com um gesso charmoso e divertidas sessões de fisioterapia.

Por incrível que pareça, poucas pessoas têm consciência das outras hipóteses, principalmente das lesões que deixam a vítima incapaz para uma vida normal. Quem duvidar disso, faça uma visita à Rede Sarah de Hospitais do Aparelho Locomotor, que é referência internacional nessa área médica.

Há algum tempo eu conversei longamente com Eduardo Biavati, pesquisador do Centro de Pesquisas em Educação e Prevenção do Sarah. Ele me disse que o desconhecimento sobre as reais conseqüências de um acidente fica claro sempre que os funcionários conversam com os alunos nas palestras que fazem em escolas e também quando levam os jovens para conhecer os centros de reabilitação do hospital. Os visitantes ficam chocados ao descobrirem como são as seqüelas.



O QUE MOSTRAM AS PESQUISAS

Na ocasião, o Eduardo mostrou-me uma pesquisa realizada em 1999 sobre morbidade das causas externas de internações. É uma das poucas no mundo que se aprofundam nos acidentes com moto, pois a maioria se limita à questão do uso do capacete. Vale lembrar que não são abrangidos os casos fatais, porque a Rede Sarah não atua com foco no atendimento de emergência, mas sim no trabalho de reabilitação. Eis o que mostra a pesquisa sobre os motociclistas internados nesses hospitais:

Materia da revista Veja em Maio/12
Leia matéria completa

Capacete - entre as vítimas com lesão cerebral, quase metade (46%) usava capacete no momento do acidente. Traduzindo: com ou sem capacete, a partir de certos níveis de impacto é praticamente impossível evitar lesões cerebrais. Uma verdade tão clara entre especialistas quanto subestimada entre leigos. Mas desde já, vai aqui um esclarecimento: ninguém está concluindo ou insinuando que esse equipamento é inútil ou dispensável. Nada disso. O capacete protege, minimiza conseqüências de acidentes e deve ser usado sempre. O que o estudo sugere é que, nos impactos muito fortes, nem o capacete garante que o piloto está livre de lesões cerebrais, ainda que em menores proporções. Mas lesão cerebral, por menor que seja, sempre é coisa séria.

Lazer - a maior parte (59%) das internações de acidentados com moto na rede Sarah é de pessoas que utilizavam a moto no lazer quando ocorreu o acidente. Apenas 28% dos casos dizem respeito a pessoas que estavam trabalhando. Esses números mostram que, apesar da grande expansão dos serviços de motofrete, em que milhares de pilotos se expõem diariamente à correria pelas mais perigosas ruas e avenidas, o maior número de vítimas com seqüelas está em outro grupo: os motociclistas que saem apenas para passear e se divertir.

Áreas urbanas - ao contrário do que se observa nas internações relacionadas a acidentes de automóveis, no caso de motos a maioria dos acidentes ocorre em áreas urbanas (57%). Aí está mais um ensinamento: quem usa equipamento completo somente para pegar a estrada talvez não saiba dos riscos que corre na cidade.

Lesões típicas - além daquelas já citadas, existe um padrão de lesão que, estatisticamente, também está associado a acidentes de moto. Trata-se da chamada lesão do plexo braquial. Trocando em miúdos, são aquelas que afetam a região do pescoço e ombros. A conseqüência é que muitas delas reduzem ou simplesmente eliminam os movimentos dos braços. Entendeu agora porque existem aqueles macacões com grossa proteção na região dos ombros e até nas costas?


VOCÊ É O VEÍCULO

Conheço um médico que nunca trabalhou na Rede Sarah, mas tem no currículo as experiências de médico-cirurgião, motociclista apaixonado e ex-vítima de acidente de moto. O nome dele é Max Carlos Braga Antão. Segundo o Max, a melhor maneira de compreender o que ocorre em um acidente com colisão é imaginar-se caindo do 2o ou 3o andar de um prédio. "Aí então, considere que as lesões resultantes de um acidente de moto podem ser bem piores do que a queda dessa altura." Sua explicação sobre os equipamentos de segurança também bate na mesma tecla. O equipamento é indispensável, pode minimizar muito as conseqüências do acidente, mas não faz milagre! Mesmo que você esteja com capacete, botas e macacão, imagine o que pode acontecer se cair do 3º ou 4º andar...

Max observa que, ao contrário do motorista, que está protegido dentro de uma caixa de metal, o motociclista é, na verdade, o próprio veículo. "Temos apenas um motor no meio das pernas, que nos leva aonde queremos. Por isso, qualquer parte de nosso corpo está sujeita a lesões de todo tipo, seja uma pequena abrasão ou fratura, até algo mais sério, como hemorragia interna, desfiguração da face ou as deficiências neurológicas e suas temidas seqüelas incapacitantes."
Depois de ouvir o Max, conversei com um médico ortopedista do Corpo de Bombeiros, o capitão Aloisio Gonçalves de Souza Jr.

Com a experiência de quem acompanha atendimentos de emergência a vítimas do trânsito, ele usou conceitos de física para explicar que corpos em sentidos opostos somam suas velocidades. Numa colisão, a força cinética do impacto é proporcional ao quadrado da velocidade. Para simplificar, o ortopedista também utiliza a comparação com a queda de um edifício. E cita o exemplo de um motorista dentro do carro. Numa colisão a apenas 48 km/h, o motorista sem cinto de segurança se chocará com o para-brisa com a mesma energia decorrente de uma queda do 3º andar. Se estiver um pouco mais veloz, a 56 km/h, a pressão será superior a sete toneladas...


Por todas essas razões, prevenir é fundamental. A conclusão do Dr. Max é taxativa: "pense duas, três, quatro vezes antes de dizer que o sol está muito quente para você usar o equipamento! Capacete, jaqueta, botas e luvas não foram feitos para se usar só no frio. Para quem quer vento na pele e sol na cabeça, recomendo trocar a moto por um carro conversível!" Mandou bem, Max...


REALIDADE QUE DÓI

Não é para chocar ninguém, mas trata-se de uma realidade que dói mesmo: entre os tipos de lesões que levam motociclistas à Rede Sarah, a maior causa é o comprometimento da medula. Obviamente, estão fora desses registros as lesões cerebrais com morte, já que casos dessa natureza não chegam ao Sarah. Na grande maioria (74%) trata-se de lesões completas, ou seja, com perda do movimento e da sensibilidade. Já nas lesões ortopédicas, que constituem a segunda maior causa de internação, 80% delas afetam os membros inferiores, nas seguintes proporções: perna (50%), fêmur (30,6%), joelho (13,9%), tornozelos e extremidades (5,6%). Depois de ler tudo isso, você ainda tem dúvida sobre a necessidade de usar botas e outras proteções para essas regiões do corpo?
COMO FICA O NOSSO PRAZER DE PILOTAR?

Agora, você deve estar-se perguntando: "diante desse quadro, como fica o nosso prazer de pilotar?"
Bem, quer saber mesmo? O prazer de pilotar pode tornar-se ainda maior, desde que se aprenda a lição a tempo. Isso é o que conta numa conversa sobre segurança.

O que vale, aqui, é ajudar o motociclista a aprofundar o nível de consciência sobre os riscos à sua volta e os meios de se proteger. Vale até estimular sua capacidade de concentração e autocontrole naqueles momentos de excitação com o coice da cavalaria a um leve toque no acelerador. O que não vale é distanciar o motociclista do sagrado prazer de pilotar. Nem há motivos para tal. Afinal, a emoção de pilotar pode ser tanto maior e mais legítima quanto mais clara a consciência dos seus riscos e limites. Vrrummm...



José Ricardo Zani



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Boas Estradas Galera!


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