06/03/2016

Inspiradora. A grande aventureira Effie Hotchkiss

Effie e Avis durante o retorno para 
casa em uma loja da Harley-Davidson. 
Salt Lake City em Setembro de 1915.
Boas Galera!

Já imaginou viajar cruzando todo o país em uma motocicleta? Bacana esta ideia não? Agora, imagine isso há um século atrás... Não era uma tarefa fácil, dada a falta de estradas pavimentadas, postos de serviços e sinalização, entre outras dificuldades. E para uma mulher tentar tal feito sem um acompanhante masculino foi particularmente muito corajoso.

Foi nos Estados Unidos, quando aos 26 anos de idade, Effie Hotchkiss se tornou a primeira mulher a atravessar o seu país pilotando uma motocicleta. 
Ela partiu de sua casa no Brooklyn, em direção a São Francisco, CA, em uma motocicleta Harley-Davidson levando em seu sidecar além de sua bagagem, muita garra e o espírito aventureiro, sua mãe Avis Hotchkiss de 52 anos para juntas rodarem por 14 mil quilômetros num passeio de ida e volta cruzando os Estados Unidos.



Modelo Marsh-Metz de 1903
Seus sonhos a levaram as páginas dos jornais em toda a América e seu nome foi gravado nos livros de história. Como ela mesma iria contar em um livro de memórias escrito 25 anos mais tarde, antes de mais nada ela era uma fanática por motocicleta, cansada de seu trabalho num banco em Wall Street e ansiosa para ver a América. 



Não havia uma causa real anexada à jornada, embora Effie confessou a um repórter que ela esperava que seria a prova de que "o motociclismo é perfeitamente bom como um esporte para uma menina." De fato, o esforço de Effie foi logo seguido por muitas outras mulheres intrépidas que tomaram para si o desafio cross-country, como as irmãs Van Buren e Bessie Stringfield.

Effie era um tanto quanto que indisciplinada, uma moleca, com pouco interesse na escola e um talento especial para se meter em encrencas, descendente de uma família proeminente de New England, ela não era uma criança com privilégios. Seus pais se divorciaram quando ela ainda não era uma adolescente.

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Pose ao lado da Harley que 
iria ser sua companheira 
de aventura

Ela ganhou gosto pela vida ao ar livre após ter passado uma temporada de verão na fazenda de seu pai, logo após seu falecimento. Essa experiência com a agricultura e com a vida ao ar livre serviram de start para a paixão que a levou ao motociclismo. Já em Nova York, durante um passeio viu um grupo de motociclistas rugir pelas ruas, despertando assim o desejo imediato por uma motocicleta.


Finalmente, depois de anos de economias, ela comprou uma Marsh-Metz, embora pouco mais do que uma bicicleta motorizada, foi o suficiente para ela, Everett, seu irmão mais novo tinha uma parecida, e ele foi seu primeiro companheiro de pilotagem. Pouco depois, Effie comprou uma Harley-Davidson monocilíndrica de um rapaz irlandês, chamado Ted, que se tornou seu parceiro de pilotagem. Algum tempo mais e Effie conseguiu uma bi-cilíndrica embora ela fosse magra e pesasse aproximadamente 49kg, ela rapidamente provou que poderia lidar com uma máquina grande e pesada tal como os rapazes.


Effie de óculos e luvas com uma amiga nos
arredores do Brooklyn com sua HD bicilíndrica.
No verão de 1914 Everett completou 21 anos, ela e seu irmão adquiriram partes iguais do espólio de seu pai. Effie sabia exatamente o que fazer com a dela: comprar um nova Harley-Davidson equipada com um sidecar (que tinha o carinhoso apelido de Banheira) para acomodar suas ferramentas, equipamentos de camping, sua arma, uma pistola Savage, sua mãe e partir até a Califórnia. No início do século 20, grande parte dos EUA, especialmente no Ocidente, ainda era fronteira selvagem, cheio de bandidos e índios, fora a vida selvagem. Além disso, o que existia de estradas eram estreitas, esburacadas, e na maior parte com muita poeira. E mesmo assim não impediram Effie.


Em 1915, a Harley lança o modelo J,
com 1000cc, câmbio de 3 marchas
  e sistema de iluminação completo,
 foi "top de linha" até 1921
No caso da Sra. Avis, não era nem pelo amor as motocicletas e nem por viagens que a "obrigou" a acompanhar sua filha, ela não estava tão confiante sobre uma mulher fazer uma viagem como esta sozinha. Ao que parece, o principal objetivo de Effie era que levando sua mãe, isso melhoraria a estabilidade do conjunto aumentando o peso para quase meia tonelada (ela contribuiu com quase um quarto desse total). 



Avis também pediu a sua filha para passarem por alguns pontos turísticos ao longo do caminho, como a Niagara Falls, Avis também queria ter certeza sobre o comportamento da filha durante o trajeto. Suas preocupações não eram infundadas, uma vez que Effie havia ganho a reputação de "demônio da velocidade". No ano anterior, ela teve sua primeira multa, quando foi pega viajando a mais de 55 km/h. 


Cartaz da Exposição
O sidecar e a moto foram cuidadosamente preparados e a dupla de mãe e filha deixaram o Brooklyn, NY em 02 de maio de 1915 para participar da Exposição Internacional Panamá-Pacífico, em São Francisco. 

Elas passaram os próximos dois meses viajando 8 mil quilômetros através de todo o tipo de terreno e condições meteorológicas que se possa imaginar, ao tempo em que a temperatura variou de zero até mais de 48°C em questão de dias, por estradas péssimas cujas superfícies foram no melhor de terra-batida, dura, e, na pior das hipóteses, lama com 30cm de profundidade, rodavam uma média de 240 quilômetros por dia. Elas chamavam grandes multidões de curiosos por onde quer que elas parassem.

Effie não só pilotou, era também o mecânico, ela tinha de arrumar a motocicleta em lugares remotos. Chegaram a improvisaram uma câmara de ar com um cobertor, cortando, enrolando firmemente e enchendo o pneu. Em um ponto ela teve que deixar a mãe sozinha durante a noite em um acampamento enquanto pegou um trem para Santa Fé para conseguir comprar câmaras novas.


Na estrada, situação comum devido a falta de
asfalto. Effie muitas vezes teve que contar com
a ajuda de sua mãe e de terceiros para sair dos
atoleiros.
Chegaram a dormir ao ar livre e os mesmos cobertores e duas blusas para cada uma as impediram de congelar. No Arizona, enquanto elas pararam para ver o Grand Canyon, um ladrão invadiu o sidecar e fugiu com a pistola de Effie. Depois veio o deserto de Mojave, que cruzaram em três dias, viajando principalmente à noite. Um homem que viu Effie navegar no traiçoeiro San Marcos, uma passagem a norte de Santa Barbara com 48°C graus de calor pronunciou: "a piloto mais destemida e mais habilidosa que ele já havia conhecido."


Mapa da rota usada durante a viagem
Mal tendo tempo para recuperar o fôlego, Effie e Avis voltaram para o Brooklyn, chegando em outubro de 1915. Ao longo do trajeto a dupla fez uma pausa por alguns dias em Reno, onde Effie mostrou suas habilidades de caça recém-descobertas. Mas, o destaque da sua viagem de regresso foi a parada em Milwaukee, onde mãe e filha receberam uma recepção e um passeio privado nas instalações da Harley-Davidson. Elas tinham acumulado ao fim mais de 14 mil quilômetros ida e volta e cruzando por dezenas de outras cidades.

Um ferreiro averiguando o eixo e as molas
do sidecar devido ao peso, algumas vezes 

ele acabou por se soltar
Naquele outono, Effie se acomodou em seu trabalho nitidamente triste, incapaz de superar as memórias vívidas no extremo-oeste e os sonhos de novas aventuras. Ela havia ficado cansada da vida na cidade e, estava pensando seriamente em se mudar para a antiga fazenda de seu pai, onde Everett era um criador de galinhas.


Um mecânico avaliando o sidecar,
Avis a direita sentada ao fundo praticando
 o tatting.
Então, chega do Oregon uma misteriosa carta, enviada por Guy Johnston, um homem que ela havia atropelado (literalmente), alguns meses antes ao pilotar pelo Golden Gate Park em São Francisco. Ele tinha visto um artigo em um jornal local que divulgava o endereço de Effie e anunciava a conclusão bem sucedida de seu passeio.

Um belo dia, para grande surpresa de Effie, ela recebeu um telegrama de Guy, pedindo para ela o encontrar naquela tarde na Grand Central Station. Duas semanas depois eles se casaram, eles se mudaram para o Oregon para começar a uma nova vida, com Avis, naturalmente. Foi um acordo justo, considerando que Effie estava prestes a se tornar uma madrasta para três filhos adultos de viuvez.


Em Nova York, pouco antes de chegarem de volta ao
Brooklyn, foto tirada pelo irmão Everett.
Effie teve poucas oportunidades para viajar, muito menos de motocicleta, ela desfrutou de uma vida simples, produtiva e grande parte ao ar livre. O casal teve um filho, Jean. A Sra. Avis faleceu em 1958, e Effie faleceu em 1966. Seja intencional ou não, Effie e Avis viraram notícia e foram celebridades no momento em que voltaram para casa. Elas também foram as primeiras mulheres a não só fazer uma viagem de cross-country em uma motocicleta, mas  também fazê-la de ida e volta. 


Em 1915 no Oceano Pacífico
Espero que tenham gostado e que sirva de inspiração a todos(as)... 


Em especial, que fique como uma simples homenagem e lembrança a todas as mulheres motociclistas que pilotam com tanta garra e coragem, que ajudam a difundir o encanto do motociclismo com todo carinho e beleza, quilômetros e mais quilômetros, e, que acompanham o nosso trabalho...


Mulheres, parabéns pelo seu dia... seu mês...



Boas estradas!


Um comentário:

  1. Adoro as histórias que posta no blog, amo motocicleta e o seu conteúdo me agrada muito, parabéns!

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